por Juliana Lovatte, Leonardo Arthur e Vinicius Guimarães
É notório que, com a chegada da pandemia do Covid-19, a economia mundial apresenta-se instável. Todos os setores estão sendo afetados e a preocupação com a continuidade dos negócios aumenta gradativamente. Este é o caso do Setor 2.5, partição do mercado ainda pouco difundida, que engloba modelos de empreendimentos que aliam sustentabilidade financeira e impacto positivo à sociedade. Assim, para que ainda seja factível aliar lucro e propósitos, é necessário que haja uma atenção redobrada para este tipo de negócio.
De forma análoga às grandes empresas, existem Negócios de Impacto de diferentes perfis, trabalhando cada qual com uma causa. Seja qual for o foco de atuação, a pandemia trouxe uma situação adversa pela qual nenhum negócio estava preparado para enfrentar. Sem qualquer tipo de reconhecimento oficial pelo Estado, os empreendimentos de impacto ainda lutam por proteção judicial e estímulos fiscais, visando a estabilidade operacional. É importante ressaltar que, embora houvesse empecilhos para o prosseguimento da realização das atividades de cada entidade, os valores, aliados à vontade de fazer a diferença e trazer um retorno positivo para sociedade, serviam de alicerce para enfrentar as dificuldades.
É de fácil percepção que a conjuntura atual trouxe uma preocupação latente ao setor 2.5: a viabilidade do exercício. Gerir um negócio de impacto não é uma tarefa simples, principalmente quando a distância se torna sinônimo de segurança. Segundo o que explica Maria Albuquerque, doutora em estruturas ambientais pela FAU USP e presidente da Synergia, empresa de consultoria socioambiental, o trabalho realizado por eles requer contato social e a crise do coronavírus tem atravancado nessa questão. Antes do início da pandemia, o maior desafio era abranger o maior número de famílias atingidas pelos desastres ambientais, visto que durante os horários comerciais essas pessoas estavam trabalhando. Já no presente momento, há um outro obstáculo encontrado: a dificuldade na adaptação ao meio virtual, e até mesmo a falta de acesso a ele, por parte do público atendido pela empresa.
Impossível negar a delicadeza dessa situação, sobretudo para as pessoas mais vulneráveis. Com grande obstinação em mitigar os efeitos que a pandemia trouxe, diversos negócios de impacto prontamente se mobilizaram. É o caso da The Equality Gang, comandada pela empreendedora Renata Formoso, residente de Londres, que viu, diante do apuro de brasileiras em terras inglesas, uma oportunidade de impactar positivamente. Renata destinou 100% do lucro obtido com as vendas das camisetas Courage Calls to Courage a uma “vaquinha” online, para prestar auxílio às conterrâneas. É pertinente elencar, também, a 4YOU2, escola de idiomas, fundada por Gustavo Fuga, cuja missão é democratizar o ensino da língua inglesa. A organização disponibilizou 600 bolsas de estudos, a fim de mitigar os efeitos da pandemia no mercado de trabalho e o consequente desemprego.
Infelizmente, nenhum laudo ou previsão econômica é capaz de apontar, com precisão, uma estabilização eminente da situação. O que se sabe, no momento, é que será crucial o fortalecimento do setor de negócios de impacto. Para a superintendente da Fundação AryMax, Vivianne Naigeborin, em live da AUPA, a crise que estamos vivendo é multidimensional e trará consequências definitivas para o futuro. É fundamental, portanto, que os empreendedores voltem a atenção para esses aspectos. Segundo ela, as cadeias descentralizadas e globalizadas revelaram-se como pouco eficientes no momento atual e, portanto, deve haver o fortalecimento das economias locais. Naigeborin ressalta, ainda, que empobreceremos enquanto sociedade, o que será mais evidente, sobretudo, entre a população com recursos financeiros mais escassos. Será indispensável, portanto, que a inclusão social seja cada vez mais colocada em prática. E, como “a esperança é a última que morre”, mesmo que as dificuldades se estendam, as expectativas para o pós pandemia se sobressaem. Para Fuga, há uma esperança de que o setor cresça, tornando-se muito mais procurado e prestigiado, tendo em vista que as pessoas estão percebendo a diferença que faz um negócio que ajude a sociedade. “Precisamos de pessoas boas, que estão dispostas a agregar ao movimento.”, completa.
Se os negócios de impacto se tornarão o novo normal após o pleno retorno das atividades econômicas, é incerto. O potencial do setor 2.5 é majestoso e seu modus operandi, bem como seus objetivos, são louváveis. Apesar disso, ainda há muito a ser feito e conquistado, principalmente no que tange a questões político fiscais e conscientização da importância desse modelo de negócio. Com tantos benefícios existentes, é necessário expandir a informação e o conhecimento sobre o setor para o máximo de pessoas possível, apresentando a elas a relevância dos negócios de impacto e que este é um modelo sustentável, capaz de aliar lucro e propósito. Em meio a tantas dúvidas, a certeza da importância da conscientização. Em meio ao receio, uma esperança: a expansão do setor de negócios de impacto e o fortalecimento de uma rede mais solidária.
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